Biblioteca

Revista do Arquivo Público Mineiro (RAPM)

Ano XL. Belo Horizonte: Arquivo Público Mineiro, 1995.

Nome do conjunto de documentos transcritos: "Inventários dos Teares existentes em Minas Gerais - 1786"

Antes do início das transcrições (todas literais) o transcritor coloca algumas abreviaturas usadas na grafia do português colonial e que ou caíram em desuso ou se modificaram, para melhor compreensão dos trechos.

Este texto trata-se da transcrição dos documentos que listam os teares existente em Minas Gerais durante o século XVIII. Estes documentos fazem parte da vigilância que a Corte Portuguesa fazia sobre a produção de tecidos dentro do Brasil. Existia uma lei régia que prescrevia a proibição da industrialização de qualquer tipo de tecido no país, com permissão apenas para tecidos grosseiros, para uso próprio, vestimenta de escravos e ensacamento das produções agrícolas. Neste número da RAPM estão transcritos todos os inventários enviados à Corte no século XVIII existentes no Arquivo Histórico Ultramarino em Lisboa. O mesmo número da RAPM contem uma cópia fac-similar da lei que a Rainha de Portugal põe sobre as Minas Gerais.

Forma dos documentos e suas intenções:

Os inventários são relatórios destinados ao Administrador da Capitania para este ter o conhecimento e controle não só da quantidade de teares existentes nas Minas Gerais, bem como de quanto de tecido (incluindo nesta produção fitas e galões) é tecido dentro da capitania. Organizando e controlando a produção da manufatura que se tem no período nas Minas Gerais.

Trechos exemplares:

"Lista das pessoas que tem teares no Distrito da Igreja grande da Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará; em cumprimento da Ordem do Ill. mo. e Ex. mo. Senhor General desta Capitania" (p. 27-28)

Segue a lista das pessoas do distrito com teares.

"Por esta lista, consta haver neste destrito 16 teares em que nelles tecem 16 pessoas, por anno 850 varas de pano branco lizo, tudo de algodão; e pintado mui pouco, de que vão amostras (...): e não consta haver neste mesmo destricto, tessume algum de Sedas, Lans, fitas, nem de galoens de ouro, ou prata. Destrito da Igreja grande de Vila Rica do Sabara 13 de setembro de 1786. Manuel Ribeiro de Miranda Commandante." (p.28).

Cada responsável tinha a liberdade de escrever o documento a sua maneira, por isso, nem todos são tão objetivos como o anterior:

"Distrito de Raposos" - 14 teares com a produção de 686 varas de algodão, 25 varas de linho e 25 varas de estopa.

"A utilidade que desta fabricas rezulta he notada de algua forma insignificante, e só no particular rezulta cómodo mayor; visto que se a pobreza de que consta a mayor parte dos fabricantes, nãi tivesse este limitado arrimo, a que as obriga a necessidade, ella não teria na verdade com que cobrir sua nudeza por não terem outra coiza em que occupem. Isto o que alcanço no meu Destrito, e que supposto se achem mais neste arraial quatro teares estão sem exercício, já por enfermidade de seus possuidores, e já por falta de effeitos para os tessumes. Rapozos, 8 de setembro de 1786 Antonio Ribeiro Viana, Comendante".

Outros são ao contrário muito concisos:

Tacoarossu de Bayxo - 24 "tiares".

"... nem me consta nestez se Teção Cedas, Galoins, nem Fitas e ssó Pannos de Algodam referidoz. Hoje 13 de setembro d' 1786. João Gonçalvez Cantanheyra - Alferes Comandante" (p. 59).

Havia o costume de enviar amostras dos tecidos feitos na região, ou dos tipos de trabalhos envolvendo tecido e linha: Arraial Velho e arredores - 19 teares.

Produção: algodão branco.

"... e suposto em alguns dos ditos tessumes se fabrica algum pano pintado com Lãa azul hé muito pouco, e também distinado para o Gosto de cas he algua toalha, ou algua Colxa, para o que comprão elles retalhos de baeta azul aos Alfayates a razão de 6 réis a linha que disfião, cordão, e fião de novo para fazerem as flores ou ramos que podem como se vê das 3 amostras que remeto. Vila Real de Sabara - 12 de 1786. Domingos Pereira de Oliveira, Comamdante." (p.75)

Caso incomum de um homem livre que ganha um certo dinheiro com uma pequena produção de tecidos: José da Costa Machado coloca as 3 filhas, a esposa e 2 escravas para produzir um tipo de tecido para toalhas ditas uso de Guimarães. "... aonde fazem algumas toalhas de algodão, ao uso de Guimarães, e outro pano, a que chamão fustão. Vila, 10 de novembro de 1786. Alferes Comandante da Vila Antonio Joze de Azevedo." (p. 76).

Há o relato curto mais importante de Cocaes (15 teares) onde já houve uma tentativa de produção de algodão, seda, anis e baunilha por parte do Capitão Mor Manuel Furtado Leite, por ver o fim da extração mineral próximo. Porém quase todas as suas tentativas caíram por terra. A produção de fios de seda teve problemas com as amoreiras que não se adaptaram ao clima da região, o anis secava as outras plantas que estavam em volta, e o algodão e a baunilha não suportaram os ataques que sofreram das formigas e dos pássaros. Só o café deu sem problema (p.128).

Transcrições de documentos deste modelo, nos dão excelente material sobre a história da produção têxtil no Brasil e seus significados. Por exemplo: em sua maioria foi ocupação feminina e de renda baixa, atividade pouco valorizada de artesanato.